sexta-feira, 15 de julho de 2016

Mistic Seas: teste de metodologias

Nos dias 24 a 26 de junho os especialistas das aves marinhas, mamíferos marinhos e tartarugas marinhas do projecto Mistic Seas* (Indicadores e critérios standard para as ilhas da Macaronésia através de metodologias e medidas comuns de monitorização da biodiversidade marinha na Macaronésia) voltaram a reunir-se, desta vez na ilha da Madeira com o intuito de testar as metodologias de monitorização propostas anteriormente.
Aqui os grupos dividiram-se e a equipa das aves marinhas pernoitou na Deserta Grande para testar algumas das metodologias que permitem obter os indicadores do Bom Estado Ambiental, nomeadamente, através da abundância, sucesso reprodutor e taxa de sobrevivência. Para isso, a área foi prospectada, e foram monitorizados alguns ninhos de alma-negra Bulweria bulwerii que se encontrava em incubação, além disto foram ainda montadas redes de anilhagem no sentido de usar a marcação-recaptura e foi ainda testada a câmara térmica que poderá ser muito útil para encontrar colónias de difícil acesso. 

Equipa das aves marinhas na Deserta Grande
Foto: Instituto das Florestas e Conservação da Natureza

Monitorização de ninhos de alma-negra
Foto: T. Pipa

Registo da biometria da alma-negra Bulweria bulwerii
Foto: T. Pipa

Estes trabalhos tiveram ainda o apoio da Doutora Patrícia Pedro investigadora do IMAR que se encontrava a seguir o sucesso reprodutor da alma-negra. Aqui ficou bem patente o que já havia sido discutido, algumas vezes, e ainda que se pretendam metodologias comuns para a Macaronésia, estas tem que ser adaptadas consoante os arquipélagos, ilhas e mesmo colónias, uma vez que, nem todas as metodologias são exequíveis em algumas das áreas em questão e diferem muito entre si consoante as características do terreno e inclusive estão à mercê da acção das causas naturais, por exemplo, em algumas colónias é possível monitorizar e seguir ninhos durante uma escala temporal que nos permita obter dados viáveis do estado da população e noutras áreas, sujeitas à erosão por exemplo, não é fácil monitorizar o mesmo número de ninhos e a área, pois todos os anos desaparecem ninhos. Fica um agradecimento pela forma como fomos recebidos pelo Instituto das Florestas e Conservação da Natureza pela maneira como nos receberão e pela organização do workshop.


Equipa das aves marinhas no cimo da Deserta Grande
Foto: T. Pipa

Vista de cima da casa de apoio na Deserta Grande
Foto: T. Pipa

De volta à ilha da Madeira, os Grupos de Trabalho reuniram-se e discutiram as fichas de monitorização, assim como, os passos a seguir para definir o Plano de Acção para atingir o Bom Estado Ambiental na região biogeográfica da Macaronésia. A equipa das aves marinhas teve ainda a oportunidade de realizar escutas na parte oriental do Maciço Montanhoso Central junto à colónia da rara Freira-da-madeira Pterodroma madeira a mais de 1600m de altitude em pleno Pico do Areeiro e deixar-se encantar pelas freiras que ecoaram pela noite dentro. Esta é a ave marinha mais ameaçada da Europa e é endémica da Madeira estando restrita a esta área e tendo apenas 65-80 casais reprodutores. Na última noite, tivemos ainda a sorte e privilégio de apoiar o Dr. Frank Zino na marcação-recaptura com recurso a redes das freiras no sentido de recapturar os loggers colocados por este, onde fomos afortunados com a captura de um indivíduo, e principalmente com as histórias deste médico e naturalista, filho do naturalista e ornitólogo Paul Alexander Zino que junto com o pastor João Gouveia redescobriram a espécie que se pensava extinta, em 1969. Uma oportunidade que certamente ficará nas nossas memórias e que guardaremos connosco como privilegiados por trabalhar com e para a conservação de aves marinhas.

Freira-da-madeira Pterodroma madeira
Foto: T. Pipa

Frank Zino a registar as biometrias à Freira-da-madeira
Foto: T. Pipa

Equipa com a Freira-da-madeira
Foto: Frank Zino

* O projecto é coordenado pelo Fundo Regional para a Ciência e Tecnologia, pela Secretaria Regional do Mar, Ciência e Tecnologia, e pelo Governo Regional dos Açores, em parceria com a Secretaria Regional do Ambiente e dos Recursos Naturais, Governo Regional da Madeira (Direcção Regional do Ordenamento do Território e Ambiente/Serviço do Parque Natural da Madeira), Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos, Fundação Biodiversidade do Ministério da Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente, Instituto de Oceanografia Espanhol e Direcção Geral da Sustentabilidade da Costa e do Mar, e com a colaboração de diversas entidades, nomeadamente a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, IMAR- Universidade de Coimbra, Fundação Gaspar Frutuoso-Universidade dos Açores, Grupo de Investigação e Conservação das ilhas Canárias, ADS Biodiversidad, Universidade da Madeira, ALNILAM e SECAC. 

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