terça-feira, 24 de junho de 2025

Corvo testa dispositivos de afastamento de gatos para salvar Cagarros

 No passado mês de junho foram instalados 12 dispositivos de afastamento de gatos por ultrassons nas colónias de cagarro Calonectris borealis monitorizadas desde 2009 na ilha do Corvo, nomeadamente no Pão-de-Açucar e na Reserva Biológica do Corvo, com um total 30-40 ninhos na área teste e tendo como controlo a colónia da Fonte Velha e do Miradouro.


Cagarro em incubação no ninho 86 na colónia do Pão-de-açucar alvo da ação de mitigação. Foto: Tânia Pipa

 Este teste tem como objetivo validar a metodologia previamente testada nos ninhos ocupados por cagarro na Reserva Biológica do Corvo que nos últimos dois anos tem tido um sucesso reprodutor (SR) sem o impacto desta ameaça, que contribui para 84% da predação das crias de cagarro na ilha (Hervías et al. 2013) e para o baixo sucesso reprodutor dos 131 ninhos monitorizados (SR 2014-2024 51%).

Cria predada por gato em 2024 no ninho 122. Foto: Tânia Pipa

Esta iniciativa contou com o apoio do Município do Corvo que adquiriu estes dispositivos para que possamos validar esta metodologia como ação de mitigação do impacto dos predadores introduzidos, os gatos em particular. 

Dispositivo de afastamento de gatos por ultrassons instalado na colónia do Pão-de-Açucar. Foto: Tânia Pipa

A longo-prazo resolver o impacto desta ameaça na ilha só faz sentido com a integração de todas as entidades interessadas e um projeto exclusivamente direcionado para a mitigação dos predadores introduzidos. Pelo que esta ação é um primeiro passo para criar zonas sem o impacto dos gatos e pode inclusive ser muito útil para áreas restritas. No final da época de nidificação partilharemos convosco os resultados desta iniciativa para mitigar o impacto da ameaça mais importante que as aves marinhas tem em terra. 



quarta-feira, 14 de maio de 2025

Mais de 700 beatas recolhidas na freguesia da Pedreira

No passado sábado, 10 de maio, a freguesia da Pedreira, no concelho do Nordeste (ilha de São Miguel), foi palco de uma ação de voluntariado que reforça a importância dos pequenos gestos para a saúde do nosso planeta. Com o apoio do agrupamento de escuteiros da Pedreira, foram recolhidas mais de 700 beatas de cigarro ao longo de um percurso urbano da freguesia.

Esta atividade foi promovida no âmbito da campanha “Oceanos Sem Fumo”, integrada no projeto Interreg Circular Ocean, e teve como objetivo sensibilizar a comunidade para o impacto das beatas no ambiente – especialmente nos ecossistemas marinhos.

Agrupamento de escuteiros 1300 da Pedreira a recolher beatas

As beatas de cigarro são um dos resíduos mais comuns nos espaços públicos. Muitas vezes descartadas no chão, acabam facilmente arrastadas pela chuva até aos sistemas de drenagem e, consequentemente, para os rios e o mar. Cada beata pode contaminar até 500 litros de água com substâncias tóxicas como nicotina, arsénico e metais pesados.


Beata de Cigarro descartada incorrectamente. @ Lisa from Pexels

Além disso, estas pequenas pontas de cigarro contêm plástico (acetato de celulose) e podem demorar vários anos a decompor-se, contribuindo para a poluição por microplásticos nos oceanos.

O projeto Circular Ocean atua nos Açores, Madeira e Canárias, promovendo uma economia mais circular e combatendo o lixo marinho. A campanha Oceanos Sem Fumo foca-se na redução das beatas descartadas no ambiente, através de ações de sensibilização, envolvimento da comunidade e monitorização.

Este tipo de atividade é fundamental para despertar consciências e gerar mudança. Ao envolver os jovens escuteiros, reforça-se a mensagem de que a conservação do ambiente começa com a ação de cada um de nós. Com mais de 700 beatas recolhidas num só percurso, esta ação mostra como o impacto do tabaco vai muito além da saúde pública – é também uma questão ambiental.


Agrupamento de Escuteiros 1300 da Pedreira após a recolha de beatas de cigarros

Se todos contribuirmos com pequenos gestos – como usar cinzeiros portáteis ou sensibilizar outras pessoas –, podemos reduzir significativamente este tipo de poluição e proteger os nossos oceanos.

 A SPEA agradece a participação destes jovens e apela a todos a reflexão sobre este tema.

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Visita guiada à Mata do Bispos promove manutenção de plantas

No passado dia 12 de Abril, a SPEA, em parceria com a Agência Melo Travel, efetuou uma visita e uma manutenção das plantações de nativas na área da Mata dos Bispos, na Povoação.

Esta parceria tem como objetivo explicar e ver "in loco" a dificuldade de manutenção de plantações de nativas e endêmicas. As plantas para além de terem de ser mantidas, limpas de plantas exóticas/invasoras, têm de ser amarradas com corda a uma cana para proteção do vento. 

Nesta atividade foram mantidas mais de 1000 plantas por 7 voluntários, numa manhã. Este é um trabalho muito importante para o desenvolvimento da floresta nativa, que por consequência ajuda a aumentar a área disponível para o priolo se alimentar, uma vez que esta ave alimenta-se quase exclusivamente de plantas endêmicas e nativas.

A SPEA agradece a disponibilidade da Agência Melo Travel para este tipo de atividades. 

A SPEA participou na reunião anual do projeto Spongeboost

Entre os dias 7 e 11 de abril, a SPEA participou na reunião anual do projeto Spongeboost, um projeto  criado para promover a recuperação do efeito esponja de ecossistemas. Este evento, realizado na cidade de Santiago de Compostela (Espanha), envolveu a participação de dez instituições parceiras de forma a reforçar a colaboração em torno da recuperação de ecossistemas e proteção da água em toda a Europa.

Os trabalhos realizados envolveram discussões dos resultados obtidos, até ao momento, com a participação dos membros do Conselho Consultivo do projeto e trocas de experiências com representantes de projetos com temáticas semelhantes (SpongeScapes e Spongeworks). 

Também foi apresentada a plataforma S.P.O.N.G.E., uma ferramenta on-line e interativa criada no âmbito do Spongeboost com o intuito de reunir informação e visualizar o progresso das iniciativas relacionadas com a recuperação do efeito esponja de ecossistemas em todo a Europa.

Cada um dos parceiros que implementam e testam medidas inovadoras para a recuperação do efeito esponja dos ecossistemas, incluindo a SPEA, apresentou resultados preliminares de monitorização e planos de ação. 

A interação com os parceiros e as discussões foram úteis para apoiar o planeamento das ações que a SPEA está a desenvolver no Planalto de Graminhais, que inclui o restauro de uma linha de água e mais de 30 hectares de turfeira, utilizando soluções baseadas na natureza. 

Através das medidas de recuperação da turfeira no Planalto dos Graminhais, pretende-se conservar a biodiversidade deste local e recuperar a capacidade de retenção de água deste ecossistema, ou seja, o seu efeito esponja.

Novos Desafios da Iluminação Pública em Debate em São Miguel

Nos dias 14 e 15 de maio, a Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada acolhe as Jornadas Técnicas “Novos Desafios na Iluminação Pública”. Organizadas pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e pela Direção Regional das Políticas Marítimas, no âmbito do projeto LIFE Natura@night, as jornadas têm como objetivo apresentar metodologias e boas práticas para tornar a iluminação pública mais sustentável, promovendo a eficiência energética e reduzindo a poluição luminosa, com benefícios para a biodiversidade e para a saúde pública.


A iluminação pública é hoje uma necessidade essencial, mas é fundamental garantir que fazemos as escolhas certas para a tornar mais sustentável e eficiente, minimizando os riscos para a biodiversidade e para a saúde pública”, afirma Azucena de la Cruz, coordenadora da SPEA Açores. “Estas jornadas técnicas visam divulgar as melhores práticas e tecnologias disponíveis, incentivando a sua aplicação nos Açores”, referiu ainda Azucena de la Cruz.

Estas jornadas são dirigidas a todo o tipo de público, incluindo técnicos, arquitetos, gestores de empresas e qualquer pessoa interessada em saber mais sobre como mitigar a ameaça da poluição luminosa nos ecossistemas e aplicar essas soluções na iluminação pública. Desta forma, este evento será também transmitido por videoconferência para possibilitar a participação em todas as ilhas dos Açores.

A sessão de abertura, no dia 14 de maio, será dedicada à apresentação dos resultados do projeto LIFE Natura@night, que visa reduzir os efeitos da poluição luminosa na Macaronésia. Este projeto conta com a colaboração de municípios da Madeira e de Santa Cruz da Graciosa, que desenvolveram Planos Diretores de Iluminação Pública e implementaram experiências piloto de iluminação mais sustentável.

Durante a tarde do mesmo dia, terá lugar uma formação dirigida principalmente a técnicos municipais — mas aberta a outros interessados — sobre a elaboração de Planos Diretores de Iluminação Pública, uma ferramenta essencial para planificar de forma mais eficiente a iluminação urbana, garantindo melhor experiência para os utilizadores com menor consumo energético e impacto ambiental. Pelas 19h00, decorrerá uma mesa-redonda sob o tema “Qual o futuro da iluminação pública?”.

No dia 15 de maio, a formação será especialmente dirigida a projetistas, como arquitetos e engenheiros civis, focando-se em aspetos técnicos do desenho de projetos de iluminação pública e exterior. Esta formação será conduzida pelo Eng. Paulo Brazão (Fluxo de Luz Lda.) e pelo Eng. Alberto Van Zeller (Auracity).

As Jornadas e eventos complementares são gratuitos, mas com inscrições obrigatórias através do site do site do Centro Ambiental do Priolo.

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Condições metereológicas podem afectar contagens do Censo de Milhafres

 O Censo de Milhafres/Mantas está previsto para os dias 5 e 6 de abril e conta com mais de 70 voluntários no momento dispostas a contar milhafres nos Açores. Com a aproximação do inicio do censo, relembramos alguns pontos importantes para garantir que tudo corre da melhor forma:

Preparação antecipada: Levem convosco a ficha de registo de observações e coloquem o dístico na viatura.

Segurança: Sempre que possível, tentem realizar o percurso acompanhados por outro voluntário.

Registos: Não se esqueçam de tirar fotos e de anotar todas as observações importantes.

Escolha do melhor momento: Como as previsões meteorológicas não são muito animadoras, tentem escolher o dia e horário com as melhores condições. Se houver vento forte, chuva intensa ou pouca visibilidade, é preferível adiar o percurso.


⚠️ Se não for possível realizar o censo este fim de semana em alguma ilha, a organização do Censo de Milhafres sugere que os voluntários tentem fazê-lo durante a próxima semana, ou no fim de semana seguinte de 12 a 13 de abril. 

A organização do censo nos Açores está disponível para o esclarecimento de qualquer duvida através do email censos.acores@spea.pt ou pelo grupo WhatsApp do Censo de Milhafres

Boas contagens a todos e obrigado por participarem!


sexta-feira, 21 de março de 2025

Aves “jardineiras” são prova de sucesso no restauro da Laurissilva

No Dia Mundial da Floresta, chega a história das aves dos Açores que estão a ajudar os conservacionistas a preservar a floresta Laurissilva. Após anos de trabalho, as plantas nativas da Laurissilva estão a ser propagadas não só pelos técnicos da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) mas também pelas aves, e os conservacionistas estão a aprender com isso.


Os resultados da maior ação de restauro ecológico alguma vez realizada nos Açores mostram que é possível restabelecer os ritmos naturais da floresta. 

“Nos chamou a atenção a regeneração do Sanguinho: encontrámos muitas plantas desta espécie a crescer em locais em que não há indivíduos adultos produzindo sementes”, diz Tarso Costa, Técnico de Conservação na SPEA. ”Isso mostra um ciclo positivo: o sanguinho que plantamos noutros locais está realmente a servir de alimento às aves como o priolo, como era nosso objetivo; e as aves por sua vez estão a dispersar as sementes, trazendo sanguinho para novas áreas.”

Quando aves como o priolo se alimentam das bagas vermelhas do sanguinho, e depois voam para outro local, podem acabar por defecar as sementes longe da planta “mãe”. Mas essas sementes só irão germinar se tiverem espaço para crescer. É neste ponto que se torna evidente o impacto de uma das maiores ações de restauro ecológico alguma vez realizadas nos Açores.

De 2015 a 2018, no âmbito do projeto LIFE+ Terras do Priolo, os técnicos da SPEA removeram plantas invasoras, estabilizaram taludes, e plantaram espécies nativas em 24ha de área na Zona de Proteção Especial Pico da Vara/Ribeira do Guilherme, em São Miguel, para restaurar a floresta Laurissilva desde os 300m até aos 900m de altitude. Assim, os conservacionistas criaram as condições para que as sementes agora levadas pelas aves possam germinar.


“Ao restaurar esse ecossistema, nós criámos uma floresta saudável. É um orgulho ver que as aves estão naturalmente dispersando sementes — e elas nos ensinaram que o sanguinho pode nos ajudar no maior desafio do restauro ecológico nos Açores, que é manter as áreas livres de plantas invasoras”, diz Tarso Costa. 

Quando os conservacionistas tentam proteger um ecossistema da ameaça das plantas invasoras, o mais difícil não é remover essas plantas, mas sim impedi-las de voltar. Isto porque as plantas invasoras são, por definição, plantas que se propagam com muita facilidade, ocupando rapidamente o terreno disponível. O facto de o sanguinho conseguir — com a ajuda das aves — propagar-se para novos locais implica que esta espécie nativa tem muito potencial para preencher os espaços que ficam disponíveis quando se removem plantas invasoras, ocupando-as e permitindo que o ecossistema nativo da Laurissilva se restabeleça sem que haja nova invasão.

Com este novo conhecimento, os conservacionistas poderão, no futuro, encontrar novas formas para usar o sanguinho e as aves como aliados estratégicos na proteção da Laurissilva.