sexta-feira, 21 de março de 2025

Aves “jardineiras” são prova de sucesso no restauro da Laurissilva

No Dia Mundial da Floresta, chega a história das aves dos Açores que estão a ajudar os conservacionistas a preservar a floresta Laurissilva. Após anos de trabalho, as plantas nativas da Laurissilva estão a ser propagadas não só pelos técnicos da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) mas também pelas aves, e os conservacionistas estão a aprender com isso.


Os resultados da maior ação de restauro ecológico alguma vez realizada nos Açores mostram que é possível restabelecer os ritmos naturais da floresta. 

“Nos chamou a atenção a regeneração do Sanguinho: encontrámos muitas plantas desta espécie a crescer em locais em que não há indivíduos adultos produzindo sementes”, diz Tarso Costa, Técnico de Conservação na SPEA. ”Isso mostra um ciclo positivo: o sanguinho que plantamos noutros locais está realmente a servir de alimento às aves como o priolo, como era nosso objetivo; e as aves por sua vez estão a dispersar as sementes, trazendo sanguinho para novas áreas.”

Quando aves como o priolo se alimentam das bagas vermelhas do sanguinho, e depois voam para outro local, podem acabar por defecar as sementes longe da planta “mãe”. Mas essas sementes só irão germinar se tiverem espaço para crescer. É neste ponto que se torna evidente o impacto de uma das maiores ações de restauro ecológico alguma vez realizadas nos Açores.

De 2015 a 2018, no âmbito do projeto LIFE+ Terras do Priolo, os técnicos da SPEA removeram plantas invasoras, estabilizaram taludes, e plantaram espécies nativas em 24ha de área na Zona de Proteção Especial Pico da Vara/Ribeira do Guilherme, em São Miguel, para restaurar a floresta Laurissilva desde os 300m até aos 900m de altitude. Assim, os conservacionistas criaram as condições para que as sementes agora levadas pelas aves possam germinar.


“Ao restaurar esse ecossistema, nós criámos uma floresta saudável. É um orgulho ver que as aves estão naturalmente dispersando sementes — e elas nos ensinaram que o sanguinho pode nos ajudar no maior desafio do restauro ecológico nos Açores, que é manter as áreas livres de plantas invasoras”, diz Tarso Costa. 

Quando os conservacionistas tentam proteger um ecossistema da ameaça das plantas invasoras, o mais difícil não é remover essas plantas, mas sim impedi-las de voltar. Isto porque as plantas invasoras são, por definição, plantas que se propagam com muita facilidade, ocupando rapidamente o terreno disponível. O facto de o sanguinho conseguir — com a ajuda das aves — propagar-se para novos locais implica que esta espécie nativa tem muito potencial para preencher os espaços que ficam disponíveis quando se removem plantas invasoras, ocupando-as e permitindo que o ecossistema nativo da Laurissilva se restabeleça sem que haja nova invasão.

Com este novo conhecimento, os conservacionistas poderão, no futuro, encontrar novas formas para usar o sanguinho e as aves como aliados estratégicos na proteção da Laurissilva.

quinta-feira, 20 de março de 2025

Cidadãos na Ciência: Censo de Milhafres 2025

O Censo de Milhafres/Mantas 2025 decorre nos dias 5 e 6 de abril e, este ano, mais do que nunca, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) faz o apelo à participação de voluntários para ajudar a monitorizar as populações das águias-de-asa-redonda, conhecida como Milhafre nos Açores e Mantas na Madeira. Este evento decorre, desde 2006, e tem como objetivo essencial recolher dados importantes sobre a distribuição e o estado de conservação destas aves de rapina, vitais para o equilíbrio dos nossos ecossistemas.
Milhafre (Buteo buteo rothschildi) Foto de Joao Luís Aldo Araújo


Durante o censo, as equipas de voluntários realizam vários percursos (a pé, de bicicleta ou de carro) e registam as observações dos milhafres (Buteo buteo rothschildi) nos Açores e das mantas (Buteo buteo harterti) na Madeira, duas subespécies únicas no mundo.

"Ainda estão disponíveis percursos nas ilhas de São Jorge, Faial, Terceira, São Miguel e Santa Maria para garantirmos resultados mais precisos no Censo de Milhafres/Mantas. A base deste censo são os nossos voluntários e só assim podemos garantir que cobrimos todas as áreas conseguimos obter dados precisos sobre a população destas aves tão especiais." afirma Ana Mendonça, coordenadora do Censo nos Açores.

A participação no censo é aberta a todos, sejam entusiastas da natureza, investigadores ou cidadãos com interesse em contribuir para a preservação da biodiversidade e não é necessário um conhecimento profundo de ornitologia, basta saber identificar um milhafre. Além disso, a experiência pode ser feita em grupo, tornando-se uma excelente oportunidade para envolver amigos e familiares nesta causa.

Em 2024, o censo contou com a participação de 183 voluntários, que registaram 535 aves, sendo 403 milhafres nos Açores e 132 mantas na Madeira. A estimativa para as populações de 2024 é de 2887 milhafres nos Açores e 298 mantas na Madeira, com um pequeno aumento nas populações, que o censo deste ano ajudará a confirmar.

Junte-se a nós e ajude a proteger estas aves, contribuindo para o conhecimento e a conservação das nossas espécies! Para participar, basta inscrever-se através do formulário disponível no site da SPEA: www.spea.pt. Para mais informações, também realizaremos um webinar gratuito no dia 29 de março, às 18h30, para esclarecer dúvidas e fornecer todas as orientações necessárias para uma participação eficaz.

Contamos consigo para fazer a diferença na conservação da nossa fauna!


quinta-feira, 6 de março de 2025

Produção de plantas por estacaria de volta aos viveiros da SPEA

A produção de plantas em viveiro faz-se essencialmente por sementes. No entanto, este ano, decidiu-se voltar a implementar uma técnica que a SPEA não usava há alguns anos, produção de plantas por estacaria.

Analisando o espaço existente em viveiro e tendo em conta que havia espaço disponível nas mesas, implementou-se a produção por estacaria que implica a recolha de partes de plantas para enraizamento em viveiro. Este tipo de produção já não era utilizada no nosso viveiro desde 2013.

Todavia, há um senão neste tipo de produção, relacionado com a variabilidade genética de cada espécie. Foram recolhidas algumas estacas de Louro (Laurus azorica), Azevinho (Ilex azorica), Pau-branco (Picconia azorica), Ginka-do-mato (Prunus azorica), Folhado (Viburnum treleasei) e Uva-da-serra (Vaccinium cylindraceum). 

A maneira mais correta de recolher estacas, é efetuar um corte na diagonal e remover até 50% da folhagem para reduzir a perda de humidade da estaca. Depois de recolhidas, as estacas foram levadas para o viveiro e colocadas numa camada de substrato, previamente preparando para este fim, para as estacas poderem enraizar. Utilizou-se uma solução de aminoácidos de forma a poder estimular o enraizamento de cada estaca.

Algumas das espécies como o Louro, têm anos em que a quantidade de sementes recolhida é muito reduzida, ou quase nula, o que faz com que este processo sejam uma alternativa de produção para aumentar a disponibilidade de plantas desta espécie.

Um agradecimento especial aos nossos estagiários, Lucia Hevia e Ivan Garcia, pelo esforço em desenvolver novas metodologias de estacarias e enraizamento de produção de plantas em viveiro.


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Centro Ambiental do Priolo já reabriu

O Centro Ambiental do Priolo reabriu ao público no passado fim de semana. Este centro é a porta de entrada na casa do priolo: o lugar perfeito para descobrir a floresta laurissilva e ficar a conhecer o trabalho da SPEA na conservação do priolo e do seu habitat, em tours guiadas pelos técnicos do Centro. Visite-nos de terça-feira a sábado das 10h30 às 18h.

Segundo Azucena de la Cruz, coordenadora da SPEA Açores: ‘’O Centro Ambiental do Priolo é uma infraestrutura de visitação e divulgação de ciência essencial nas Terras do Priolo, e convidamos a todos a fazer-nos uma visita e descobrir porque temos um carinho tão grande por esta ave especial’’.

Foto: Lois Baldini

O Centro Ambiental do Priolo marca a única região do mundo onde esta espécie existe: a mancha de Laurissilva a este da ilha de São Miguel. Esta pequena ave esteve quase a desaparecer, mas graças aos esforços de conservação liderados pela SPEA, foi salva da extinção e a sua população está hoje estável. Pequena, acastanhada e esquiva, não é uma ave fácil de observar, pelo que a ajuda dos técnicos do Centro — embora não seja garantia de avistamento — é uma mais-valia preciosa.

O Centro Ambiental do Priolo é gerido pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), e foi criado no âmbito dos vários projetos LIFE dedicados à conservação do priolo e do seu habitat, na certeza de que só será possível proteger a Natureza a longo prazo se as pessoas estiverem sensibilizadas para a sua importância. 

Foto: Ruben Coelho

Integrado na Rede de Centros de Ciência dos Açores como associado, este espaço veio colmatar a necessidade de divulgação dos valores naturais dos Açores, oferecendo um conjunto de atividades especialmente pensadas para os vários tipos de visitantes, desde alunos e escuteiros a habitantes locais e turistas. 

Toda a informação sobre os tours, programas e demais projetos do CAP e da SPEA podem ser consultados no website www.centropriolo.com.


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

SPEA aposta no restauro e conservação de Zonas Húmidas nos Açores

No dia 2 de fevereiro celebrou-se o Dia Mundial das Zonas Húmidas, uma data assinalada desde o ano de 1971, quando foi assinada a Convenção sobre Zonas Húmidas de Importância Internacional, especialmente como habitat de aves aquáticas. 

Turfeira - Graminhais

As Zonas Húmidas são ecossistemas com alta biodiversidade e importância ecológica como rios, lagos, lagoas e deltas. São o habitat de muitas espécies que nelas residem durante toda a sua vida ou que buscam nestes ambientes um local temporário para abrigo, alimentação ou reprodução. 

Turfeira - Graminhais

Turfeira - Graminhais

Para as populações humanas, as Zonas Húmidas proporcionam uma série de serviços como o abastecimento e regulação de cursos de água, garantindo o abastecimento das cidades e evitando eventos indesejáveis como cheias e inundações. As Zonas Húmidas também contribuem para a mitigação das alterações climáticas ao retirar e armazenar o dióxido de carbono da atmosfera.Nos Açores, as Zonas Húmidas têm sido objeto de ações de restauro ecológico no âmbito de diferentes projetos de conservação da natureza, no caso da SPEA, através do projeto LIFE IP Azores Natura e do Spongeboost. Através destes dois projetos, a SPEA está a desenvolver trabalhos de recuperação de duas bacias hídricas, nomeadamente a cabeceira da bacia da Ribeira da Achada, no Planalto dos Graminhais, e a bacia da Ribeira da Lomba Grande, na Mata dos Bispos (Município da Povoação). 

Mata dos Bispos

Mata dos Bispos

No Planalto dos Graminhais, a área de intervenção compreende uma área de quatro hectares caracterizada pela turfeira, uma vegetação formada por espécies de plantas herbáceas e musgos com grande poder de retenção de água. A turfeira é fundamental para garantir o armazenamento e o abastecimento de água para a população que vive na Achada e nas localidades adjacentes. O restauro ecológico destas duas Zonas Húmidas é feito a partir do controlo da vegetação invasora, da plantação de espécies nativas e da aplicação de soluções baseadas na natureza (SbN). Através das SbN, estão a ser realizadas a consolidação das margens de linhas de água e a promoção da capacidade da retenção de água destes ecossistemas. 

A recuperação destas duas Zonas Húmidas, localizadas dentro dos limites da Zona de Proteção Especial do Pico da Vara/Ribeira do Guilherme e da Zona Especial de Conservação da Serra da Tronqueira e Planalto dos Graminhais, tem impacto direto na melhoria do habitat do Priolo, contribuindo significativamente para a sua conservação.


Turfeira - Graminhais

Os resultados dos trabalhos implementados estão a ser acompanhados por um sistema de monitorizações para avaliar a evolução da sua recuperação ecológica, permitindo aprimorar o plano inicialmente proposto, caso necessário, e para documentar as alterações realizadas. A experiência obtida com estas intervenções será útil para o planeamento de outras ações semelhantes no futuro, seja nestes mesmos locais ou em outras Zonas Húmidas no arquipélago dos Açores.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Primeiro encontro de parceiros do projeto Interreg MAC Ocean Circular

Foi em Tenerife, nos dias 22 e 23 de janeiro, que os representantes dos 17 parceiros deste projeto se reuniram para dar inicio áquele que será um projeto com enfoque na economia circular num processo colaborativo entre Açores, Madeira, Canárias, Cabo verde, São Tomé e Gana que visa fazer a transição do lixo marinho para uma economia circular no Centro-Atlântico Oriental, alavancando sinergias, recursos, conhecimentos e capacidades partilhadas entre regiões. Desta forma, tenta dar soluções ao enorme desafio ambiental colocado pelo lixo marinho numa abordagem de economia circular, integrando-o no sistema de tratamento de solos e propondo novos modelos de negócio baseados na reciclagem e valorização.



O CIRCULAROCEAN baseia-se num processo colaborativo, participativo e aberto entre as diferentes regiões que participam para proporcionar uma estratégia comum e sustentável com uma abordagem circular, onde convergem atividades de transferência de conhecimento, ações piloto e demonstrativas sobre a aplicação de tecnologias de monitorização e gestão de dados de resíduos, novos modelos de negócio circulares, intercâmbio de boas práticas e experiências em matéria de reciclagem e valorização, e ações de prevenção em atividades com impacto nos resíduos, como o turismo, a pesca ou os portos.

O papel da SPEA nos Açores no projeto CIRCULAROCEAN consistirá principalmente na sensibilização ambiental e no envolvimento das organizações numa melhor gestão dos resíduos, envolvendo os principais públicos-alvo (comunidade piscatória, utentes dos portos, zonas balneares, operadores de turismo marítimo, empresas de restauração costeiras) e escola para garantirmos um futuro mais sustentável. 
@Matt Paul Catalano on Unsplashed




quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Projeto Arenaria 2024/2025

O Projeto Arenaria existe desde 2009 e tem como principais objetivos: estimar o tamanho populacional das aves, particularmente as limícolas, que utilizam as costas portuguesas durante o período de inverno; documentar as tendências populacionais das aves limícolas invernantes e, sensibilizar o público para a conservação dos ecossistemas marinhos e costeiras. 

Neste censo a participação de voluntários é essencial para cobrir o máximo de zonas costeiras possível, para, assim, aferir melhor a população de aves invernantes que utilizam esses ecossistemas para invernar. Este censo terá início no dia 1 de dezembro de 2024 e terminará no dia 31 de janeiro de 2025. 

Foto: Alba Villaroya

Poderá consultar todas as informações necessárias através do seguinte LINK

A SPEA Açores arranca 2025 com uma atividade de contagem de aves costeiras. 

No dia 4 de janeiro, pelas 10:30, será realizado um percurso para contagem de limícolas na zona costeira de Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel. O ponto de encontro será o bar da marina, pelas 10:15, sendo necessário binóculos, roupa confortável e adequada às condições meteorológicas.

Voluntarie-se e ajude-nos a recolher mais dados acerca destas aves.